À MESTRA, COM CARINHO!
- Danilo de Jesus
- 28 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

Eu tremia, minha voz ficou embargada, os meus olhos se encheram de lágrimas, eu não acreditava no que estava vendo, mas era ela sim, eu estava frente dela! Ela muito educada e simpática (ao contrário da fama de brava) e eu tendo um ataque histérico de fã pedindo para tirar uma selfie (me julguem!). Mas nessa hora, o mundo meio que parou a minha volta, e eu só pensava em um único samba! "É O MESTRE QUE SEGUE O ASTRO REI LÁ NO INFINITO O CÉU FICOU AINDA MAIS BONITO TODOS QUEREM APLAUDIR" Eu não costumo ser puxa saco, ou seguir modismos – eu gosto mesmo é do bom gosto, gosto de ouvir e ver uma bela história, gosto de procedência – de raiz. Falando em Raiz, a quadra da minha Portela foi o palco desse rápido encontro. A dois sábados atrás aconteceu lá a entrega dos prêmios do site SRZD - para os melhores de 2015. Eu estava lá porque a Mocidade Alegre ganhou o prêmio de melhor escola de São Paulo, e ela estava lá pois a São Clemente ganhou o prêmio de melhor Escola e ela de melhor carnavalesca! Mais um pra coleção de Rosa Magalhães, a homenageada do “Pra não acabar na Quarta Feira” dessa semana! Carnavalesco! Era essa minha resposta quando me perguntavam sobre o que eu queria ser quando fosse adulto. Mas a vida tem dessas coisas, e Deus não deu asas a minha cobra. Eu nunca foi bom em Educação Artística, na verdade sempre fui péssimo, eu era daquelas crianças que não se limitavam a margem do desenho, pintava num sentindo, depois no outro e em outro, eu era um horror... Chegava a ser engraçado de tão ruim que eu era com desenhos, com artesanatos e afins! O que não significa que eu não tenha bom gosto para apreciar o que é belo. E na minha modesta opinião, poucos sabem realmente valorizar o BELO em suas mais variadas formas como a mestra Rosa Magalhães. Num mundo onde predomina a figura masculina, Rosa é o ponto fora da curva. Em mais de trinta anos de carreira, são 07 títulos – ficando atrás somente de João 30 “que possui 08” – Ela é a maior campeã da era do Sambódromo, para se ter ideia, se somarmos os títulos dos dois maior nomes da atualidade “Renato Lage e Paulo Barros” eles juntos empatam com Rosa, e olha que o último título dela foi em 2013, e tem gente achando que ela deveria se aposentar! Tolos! Fora os títulos e prêmios, a carnavalesca ainda tem em sua estante um Emmy, pelo seu trabalho na cerimônia do Panamericano em 2007 no Rio. Poucos sabem, mas em 1971 Fernando Pamplona – que era responsável pelo Salgueiro, montou uma espécie de “Comissão Carnavalesca” que contava com os jovens João Trinta, Arlindo Rodrigues, Rosa, Maria Augusta. Foi uma verdadeira festa! Se você já ouviu o samba “Pega no Ganzê – Pega no Ganzá”, sabe bem do que eu tô falando! Se não ouviu – corra e ouça! “Festa para um Rei Negro” foi um marco no carnaval de 71 e partir daquele desfile, cada qual seguiu seu rumo e escreveu sua história dentro do carnaval brasileiro! E a da Rosa é sem dúvida, uma das histórias mais bonitas no mundo do samba, principalmente porque ela ainda não teve um ponto final, pois ano a ano vem se reinventando e ainda tem muito a escrever! Dos 07 títulos, o primeiro foi o inesquecível BUMBUM PATICUBUM PRUGURUDUM de 1982, último título da Império Serrano. Já seu título mais recente foi em 2013 com Vila Isabel, quem não cantou o “FESTA NA ARRAIÁ, É PRA LÁ DE BOM...” um primor de samba parceira de Martinho e Arlindo Cruz! Rosas também teve passagens pela Mangueira em 2014, e em 2010 a frente da União da Ilha, a carnavalesca fez mais um belíssimo desfile, dessa vez sobre Dom Quixote, garantindo a permanência da escola entre as grandes, em seu retorno no grupo especial. Já no fim dos 80 e inicio dos 90, esteve a frente do Salgueiro e Estácio de Sá, com famosos desfiles, dentre eles o da Rua do Ouvidor e o TiTiTi do Sapoti. Mas foi na Imperatriz Leopoldinense que Rosa Magalhães ganhou nome, fama e imprimiu seu estilo. Foram 18 anos a frente da escola, na mão de Rosa que a Imperatriz recebeu o título de “Perfeitinha de Ramos” - 05 títulos (um Bi e um Tri), e também dois vices campeonatos, fora o show! Na verde e branco mais que desfiles tecnicamente perfeitos, Rosa nos presenteou com aulas sobre a cultura Brasileira e Mundial, para citar alguns exemplos: Teve Camelos no Ceará, a história da Imperatriz Leopoldina, e também uma linda homenagem a Joãos e Marias mundo a fora. Rosa também falou de Piratas - os verdade e os atuais, e usou muito Índio, Onça e Anjo (sua marca) para contar a história do descobrimento do Brasil, de Mauricio Nassau, do Marquês de Sapucaí, de Alexandre Dumas, da Chiquinha Gonzaga, de Catarina de Medicis. Ela também falou da história da cor vermelha e em outro ano a história da Cachaça. Rosa já ousou fazendo um desfile sobre Antropofagia e outro sobre o Bacalhau - que misturou Chacrinha e Odim no mesmo samba. E até quem diria, ela conseguiu juntar em um desfile a turma do Sítio de Monteiro Lobato com um dinamarquês de nome complicado, fazendo o povo cantar um samba que tinha como verso o nome dele: “Na via láctea - voou foi além, com o cisne altaneiro Hans Christian Andersen” ...
Coisas de Rosa Magalhães! E nesse carnaval de 2015, a mestra prestou uma merecida homenagem ao seu professor - Fernando Pamplona, com o belíssimo desfile da São Clemente, em tempo: “Infelizmente, o desfile não pode ser transmitido via TV – um insulto a comunidade Clemênciana, e a nós que esperamos UM ANO por esses desfiles!”. Mas isso não apagou a grandeza do trabalho da Rosa e principalmente da comunidade da escola, que briga a anos para se tornar uma grande do carnaval carioca. Assim é Rosa Magalhães!
Sempre um passo a frente de seu tempo, quando achamos que ela vai parar – Ela vem e nos assombra com seu frescor e conhecimento...
Professora de todos nós, que com seu trabalho reafirma a certeza de que o samba é sim a maior manifestação cultural de nosso país!
E os desfiles são o maior espetáculo a céu aberto do planeta Terra.
Obrigado Mestra! Até Mais Danilo Jesus
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