top of page

DO VENENO DA SERPENTE AO BRAÇOS DE OLORUM

  • Danilo de Jesus
  • 15 de jun. de 2016
  • 4 min de leitura

Falar de escolas de samba lingadas a torcidas de futebol sempre é um assunto muito delicado, mas elas existem, não podemos negar sua importância e claro, merecem nosso respeito enquanto instituições carnavalescas... Esse fenômeno ocorre em São Paulo, não sei se no Rio há alguma agremiação oriunda de torcidas (vale a pesquisa). Aqui na terra da garoa os grandes times, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, tem suas representantes na festa do momo, não apenas uma, mas a maioria dos times tem até duas ou três agremiações associadas a torcidas organizadas. Na década de 90 tivemos a Gaviões da Fiel ganhando espaço e desfiles na elite do carnaval, na década seguinte surgiram outras potências como a Mancha Verde e a Dragões da Real, contribuindo cada uma a seu modo para a festa do Momo. Além de disputarem com escolas tradicionais, as escolas ditas de “torcidas” todo ano precisam provar que são capazes de ir além, tirando o ranso criado no entorno delas, sim ele existe, mas eu não vou levantar bandeira, nem cabe a minha pessoa julga-las, mas é fato que o preconceito que elas sofrem é algo a se pensar, até eu por algumas vezes me pego pensando no que as levam a seguir adiante, passando por cima de tanto preconceito, e a resposta é sempre a mesma – o SAMBA! Dentre diversos desfiles, alguns belíssimos, outros questionáveis, o que é natural, eu quero hoje relembrar de uma manhã de carnaval, um friozinho de fim da madrugada, um dia que amanheceu meio cinzento... No fim da primeira noite do carnaval de 2012, a Mancha entrou na avenida com um ponto fora da curva, tanto em sua história, quanto na história das escolas de samba ligadas a torcidas de futebol. Com cores cítricas e um samba belíssimo, a Mancha trouxe para aquele carnaval um enredo de matrizes Africanas, algo que até então não havia registro entre as escolas com essas raízes... O mais próximo que me ocorre no momento foi o desfile de 1994, com o Veneno da Serpente, da Gaviões, e nem era tão africano assim, falava sobre a história do Tabaco, saudava São Jorge, com um belo refrão: “Saravá, Saravá... Salve o Santo Guerreiro E uma vela pra saudar Meu São Jorge Padroeiro” Como não se emocionar com esse samba, entretanto, as escolas com essas características (de torcida) não vinham com um enredo Afro, pelo menos no grupo especial de São Paulo., sempre foi um caminho qual essas escolas nunca haviam percorrido. Não haviam até 2012, quando, com propriedade a Mancha Verde desenvolveu um senhor enredo pregando a Humildade bom base nos ensinamentos de Olorum pai da Criação, e seus filhos/ irmãos, os orixás responsáveis por restabelecer a ordem no planeta, e resolver os problemas causado pela humanidade. Ou seja, material rico e imprescindível para um excelente samba, e de fato foi... Aquela manhã cinzenta presenciou uma Mancha Verde diferente de tudo o que ela já havia feito, se reinventou como agremiação, o samba ajudou e a escola voltou para os desfiles das campeãs pelo terceiro ano seguido com o quarto lugar. Quer mais? Tem mais! Com esse desfile a Mancha provou que carnaval, que o samba vai muito além das linhas do campo de futebol, que é possível realizar um desfile, fora da sombra do escudo de um time, não se faz necessária essa associação na produção cultural e estética de um desfile, esse carnaval foi a prova que enquanto agremiação cultural carnavalesca a Mancha Verde, escola de samba, é muito maior que simplesmente a torcida organizada do Palmeiras. Não desmerecendo o clube, mas é preciso deixar separado, o gramado da passarela, separar a arquibancada de estádio, da arquibancada do sambódromo, além do que, futebol tem o ano todo – com prioridade de transmissão da tv, mas carnaval, poxa é uma vez no ano, e uma batalha para conseguir uma cobertura bacana, que ele merece, não podemos misturar as coisas, maculando a imagem do samba. Fica a dica, quando se toma esse caminho, as coisas fluem melhor para as escolas ligadas a torcidas de futebol, elas crescem, ganham respeito, todo mundo gosta, engrandece a nossa festa e quebra essa barreira do preconceito que elas sofrem, mas que também, muitas vezes elas mesmo semeiam e alimentam, distorcendo a função de uma torcida de escola de samba, levando toda a nossa cultura e o nosso samba em si, para o lado ruim da questão, virando matéria de jornal sensacionalista, prestando assim um desfavor ao carnaval. A grande virada na história da Mancha, veio nesse ano de 2012, assim como a Gaviões que também já fez desfiles inesquecíveis fora da temática do futebol, e temos a Dragões que vem ano após ano, crescendo com carnavais competitivos e autorais, esse é o caminho para qualquer escola de samba, e as ligadas a torcidas precisam todo carnaval mostrar que sabem fazer samba, tarefa difícil, mas com um pouco de originalidade e muita pesquisa, o retorno e o sucesso vem... O samba agrega, e quando a festa é bonita, todas as escolas “de time, ou não” saem ganhando, não há perdedor quando pensamos na cultura popular acima de tudo. Até mais Danilo de Jesus


 
 
 

Comments


Ser Sambista 

 é um eterno exercício de Felicidade 

  • White Facebook Icon
  • White Instagram Icon

© 2023 por Tipo Diva Blog | Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page