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QUANDO O SANTO FOI MORAR NOS CAFUNDÓS

  • Danilo de Jesus
  • 8 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Subir do acesso para o grupo especial nunca é fácil, porém mais difícil ainda é se manter na elite do carnaval, seja em São Paulo ou no Rio de Janeiro, o efeito Iô-Iô (sobe e desce) afeta inúmeras escolas, desde as consideradas “pequenas”, até escolas tradicionais, vez ou outra, passam por períodos complicados como esse. Mas como para toda regra há sempre uma exceção, no ano de 2003, a até então quase que recém-criada Império de Casa Verde, pedia licença com a imponência de seu Tigre Guerreiro e mostrava ao mundo do samba a que veio.

Coube a Império iniciar a segunda noite de desfiles, abrindo caminhos para escolas poderosas como Camisa, Nenê e Mocidade, na noite anterior o Anhembi já havia visto desfiles memoráveis como o enredo sobre os Cavalos da Vai-Vai e o deslumbre das 5 Deusas Encantadas da Gaviões (campeã nesse ano) áureos tempos da Fiel!

Diferente da Barroca que abriu a primeira noite de desfile e já tinha experiência de alguns carnavais na elite do samba, 2003 era a primeira incursão da escola da Casa Verde entre as grandes paulistanas, e digo mais, estreou com um enredo autoral, com um senhor enredo, diga-se de passagem... A escola desenvolveu seu desfile com base na história do místico religioso/milagreiro e escravo João Camargo – conhecido como Nhô João!

Naquela época comprar CD dos sambas de enredo era de lei, não existiam, de forma tão proliferada, os downloads e haviam poucos site especializados (Salve o SASP, rs) além da internet ser discada e claro, entrar depois da meia noite era regra kkk.

Voltando, quando saiu o tal CD com os sambas de 2003 eu vi, e ouvi, preciosidades como OMI (da Morada) ou o samba do Rio Pinheiros da X-9, mas a última faixa daquele CD reservava algo brilhante, foi ali naquela faixa 14 o meu primeiro contato com a Império, até então como disse, escola recém-criada (apenas 10 anos). Aquele samba tinha uma pegada diferente de tudo o que eu já havia escutado no carnaval de São Paulo...

Eu não tenho ouvido musical, nem tanto conhecimento assim, mas alguma coisa na cadência do Nhô João era deliciosa e me seduzia.

Minha simpatia com a escola veio logo de cara e foi consolidada em seu desfile (vi o mesmo pela televisão). A escola entrou tímida na avenida, e foi ganhando força e coragem no seu desenrolar, o samba ajudou, certeza que o samba levou a escola para um final glorioso, ponto para a bateria, que acelerou o samba na medida correta, não descaracterizando a sua rica melodia, sem transformar o samba numa marcha sem fim (coisa que costumam acontecer, matando a beleza de diversos sambas por ai).

Na época, o ator Paulo Betti estava filmando um filme sobre a vida de Nhô João, chamado Cafundó, e isso foi endossado no desfile, dando uma força maior a importância do enredo...

Como eu já disse, o fato do enredo ser autoral e genuinamente brasileiro, paulista - para ser exato, uma vez que Nhô João era de Sorocaba (interior do estado de São Paulo), despertou ainda mais a minha atenção para a apresentação da escola, e claro, engrandeceu os desfiles daquele ano em nossa cidade. Salve a Cultura Brasileira e as escolas de samba que ainda buscam beber dessa inesgotável fonte, cheia de história, cores, lendas, o Brasil continua cheio de possibilidades!

Essa valorização de nossa cultura precisa ser preservada, deve ser respeitada e cultuada entre as escolas de samba, reduto da mais brasileira de nossas artes - os desfiles de carnaval.

A bem da verdade, eu não sei se o filme Cafundós vingou, nunca mais ouvi falar a respeito dele... O que eu sei é que a Império vingou e ao contrário da Barroca que também subiu aquele ano – e caiu, a Casa Verde ficou no especial, onde permanece até hoje...

Após esse ano a escola ganhou uma força incrível, sua comunidade passou a ter uma identidade própria e 2 anos depois, a escola já era Campeã do Carnaval e no ano seguinte, foi coroada com o merecido Bi campeonato...

Entretanto, até hoje, quando falam da Império de Casa Verde para mim, a primeira memória afetiva que me vem a mente é, sem dúvida, a faixa 14 daquele CD de 2003, inclusive a mesma está até arranhada kkk (falo sério!).

Naquele ano, como dizia em seu samba, Nhô João, o tal santo, foi morar nos Cafundós com todos os seus Orixás, e a Império veio morar em definitivo na elite do samba paulistano, onde hoje é atual campeã.

Fica meus parabéns a toda comunidade guerreira da Casa Verde, não só pelo Título, mas pela sua organização e muita força de vontade, responsáveis por transformar o seu Tigre em uma das maiores forças do nosso samba paulistano, em tão pouco tempo! Até Mais, Danilo de Jesus


 
 
 

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