QUE MARAV'ILHA
- Danilo de Jesus
- 28 de mai. de 2015
- 6 min de leitura

No ano 1998, a União da Ilha era última escola a desfilar, eu assistia a transmissão pela TV - o sono tomava conta do meu corpo e da minha alma, mas eu precisava ver aquele desfile, eu precisava ver aquele samba incrível sobre Pierre Verger – Fatumbi!
Lembro que no esquenta da escola, uma repórter da Globo pegou para entrevistar a atriz Marisa Orth (que estava no auge do personagem Magda), a atriz desfilaria na escola como destaque de chão. Então a repórter, começou a falar e falar (na tola esperança da entrevistada ouvir rsrs) e a atriz estava mais preocupada com o esquenta da escola, quando a repórter perguntou se ela achava que a escola se recuperaria naquele ano, já que quase caiu no ano anterior, a atriz arregalou aqueles imensos e expressivos olhos e gritou assustada:
O QUE, QUE QUASE CAIU?
Não minha querida a Ilha não vai cair, isso aqui como diz meu amigo Falabella (simpatizante da escola) é o arrastão da alegria, a Ilha é o arrastão da alegria! "A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela… E ancorou na passarela! Fez um desembarque fascinante no maior show da terra!" Vamos falar de alegria, não haveria outra forma de começar a escrever sobre essa tão querida escola, se não citando um dos versos de samba mais conhecido no mundo todo, ai eu pergunto a você querido leitor:
Quem na Avenida é mais feliz que a União da Ilha do Governador?
Muito antes da funkeira Ludmilla afirmar que É hoje, a União da Ilha há mais de 3 décadas vem cantando e encantado a todos nós do mundo do samba, afirmando com todas as letras que todo dia É hoje, afinal o povo é o dono da Festa! A famosa Ilha do Governador é formada por 14 bairros do subúrbio carioca, onde está localizado o Aeroporto do Galeão, certa vez eu li em algum lugar que a Ilha do Governador é quase que um Principado dentro da cidade do Rio de Janeiro. No carnaval de 2014 após os desfiles da segunda noite, eu conheci duas moradoras da região, e elas foram categóricas em afirmar que o povo que mora na Ilha se resolve por lá mesmo, sem precisar vir ao continente, eles só atravessam a Baia de Guanabara quando realmente precisam.
Como no carnaval, ai é a exceção, aliás atravessar o mar para o Insulano (como são chamados os moradores da Ilha) é sagrado no carnaval, e por muitas vezes está presente nos sambas da escola, o imaginário dos componentes que atravessam o oceano para desfilar na Sapucaí defendendo sua escola, sempre dá poesia. Falar da Ilha é tão fácil e gostoso, a começar pela quantidade de samba antológicos da escola, eu aqui indiquei 11 sambas para você ouvir querido leitor, mas há no mínimo mais 11 sambas da escola que merecem ser ouvidos por quem diz ser sambista, conhecer os sambas da União deveria ser mandatório ao sambista! Afinal na Ilha há fartura de samba bom e de alegria.
Alegria, essa palavra é sinônimo para a escola, afinal sempre foi reconhecida pelo seu estilo leve e muito alegre de desfilar. Isso se deve a plástica adotada pela carnavalesca Maria Augusta no fim do anos 70 para os desfile da União da Ilha. Enquanto João 30 embasbacava o público com o luxo da emergente Beija Flor daquela época, Maria Augusta apostava no luxo da COR para criar uma identidade para União da Ilha, com temas leve que proporcionavam desfiles “BONS, BONITOS E BARATOS”, fazendo com os desfiles caíssem no gosto do público. Como não citar o carnaval de 1977 – com o enredo DOMINGO a Ilha ganhou o estandarte de melhor “comunicação do com público” sacramentando assim seu estilo dentro do grupo especial das escolas de samba.
Depois de Domingo, a Ilha apresentou uma sequência de 05 anos e 05 sambas incríveis, que na minha opinião entram em qualquer coletânea,, inclusive o menos conhecido desses 05 sambas (1910 Burro na Cabeça) é um samba delicioso de se ouvir, nesses 05 sambas ainda estão O Amanhã, O que Será?, Bom – Bonito – Barato e o maior de todos É HOJE! de 1982 - obra do poeta DIDI, maior ganhador de samba da escola, ao todo foram 22 sambas na União, lhe credenciando a ser enredo da escola no Carnaval de 1991 – uma homenagem justa e com outro samba marcante à altura do poeta, o lindo “De Bar em Bar”: “Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre, que eu tô feliz Nessa eu vou de bar em bar, beber a vida que eu sempre quis” Ainda no fim dos anos 80 a Ilha conseguiu chegar na sua melhor colocação entre as escolas do grupo especial, no ano de 1989, enquanto o Cristo mendigo da Beija Flor e o Liberdade Liberdade da Imperatriz duelavam pelo campeonato, a Ilha veio pelas beiradas e conseguiu chegar ao inédito terceiro lugar, com outro sambaço “FESTA PROFANA”, mais conhecido como o samba do REI MANDOU...
Vale a pena ver esse desfile no Youtube, pela Manchete claro, e ver o gênio e comentarista Fernando Pamplona - cismado com esse samba que achava “marcheado”, se redendo a qualidade do desfile ao fim da apresentação da Ilha. Nos anos 90 veio a maturidade e a cobrança por um título para os desfiles da Ilha, a escola oscilou entre apresentações fantásticas como o Abrakadabra de 1994 e Fatumbi de 1998, com outras escorregadas feias como no desfile de 1997 - sobre o bota abaixo do prefeito Pereira Passos no Rio do ínicio do século passado, onde carnavalesco e escola não se entenderam na armação da mesma. Ainda nesse período, a escola levou para a avenida em 1996 a história da Galinha D’angola, um enredo maravilhoso, com um samba e bateria impecáveis, foi uma super apresentação – mas que não foi além do 12 lugar para escola.
Talvez esse seja o carma da escola, as vezes quando tudo indica que vai dar certo, vem a apuração e seus (jurados implicantes!) que custam em dar notas decentes para a escola a subjugando como mediana, e foi assim, entre altos e baixos, que em 2001 a Ilha se viu retornando ao grupo de acesso... Para mim que nasci vendo a escola entre as grandes foi difícil ver o carnaval sem a Ilha no especial, e olha que foram 10 anos até o grande retorno. Em 2009 a escola foi campeã no acesso com enredo sobre Julio Verne, lhe credenciando a voltar para o especial, no decorrer desse houve uma grande festa na Mocidade Alegre aqui em São Paulo e a Ilha foi uma das convidadas!
Caramba...
Me arrepia só de lembrar da emoção do pessoal da escola quando começaram a cantar o samba do campeonato daquele ano...
A quadra se encheu de alegria, foi um verdadeiro festival de samba bom, a União da Ilha cantou praticamente todo seu repertório, poucas vezes sambei tanto quanto naquela noite! No ano seguinte, em 2010, a escola abriu o desfile no domingo com o enredo sobre Dom Quixote, criado por Rosa Magalhães, a Ilha desfilou e ficou entre as grandes (um feito e tanto para os dias de hoje), me arrepia de lembrar a arquibancada cantando:
“OHHH a União voltou, a União voltou” e ficou....
E de onde eu espero que não saia mais. As vezes fico pensando:
Falta um título para a União da Ilha, a escola é uma das mais queridas entre o povo do samba, na verdade a Ilha é a segunda escola de quase todo mundo, de certo essa simpatia se deve ao fato da escola nunca ter ganho. Sim, pois por mais que ela seja querida e tenha excelentes sambas, a Ilha nunca ganhou um título, e por consequência, nunca foi ameaça real para as demais escola – a tornando assim, simpática como todos. Como acontecia com a Unidos Tijuca, todo mundo simpatizava com o povo do Borel, bastou a escola começar a ganhar carnaval e se tornar mais competitiva, que pronto, toda aquela simpatia foi por água abaixo.
Além disso, vale lembrar que a União da Ilha do Governador sempre teve uma das melhores baterias desde a época do mestre Paulão, Odilon, mestre Marquinho e hoje está sobre a batuta do Mestre Ciça, ritmo nunca foi problema pro pessoal da União – é uma senhora bateria! Um título faria bem demais a Ilha, mas eu me pergunto, será que a escola deixaria de ser a queridinha de todos nós?
Olha eu sinceramente não sei te dizer querido leitor...
Eu falo por mim e repito que, eu ficaria muito feliz por eles e sei que você que está lendo esse texto também ficaria!
Como diz o grito de guerra do Ito melodia (interprete da escola e filho de Aroldo Melodia – que foi um dos grandes nomes do samba, e que durante anos foi primeira voz no carro de som da Ilha), então como diz Ito Melodia: “Escola do meu coração e de vocês também!” Assim é a União da Ilha do Governador, a escola é um pouquinho de todos nós de gostamos de samba.
Hoje os desfiles são sem dúvida uma das disputas mais acirradas que existem, e graças aos deuses do samba a União está lá, para muitos “entendidos de samba” - nem entre as escolas grandes e nem entre as escolas pequenas- mas para mim a Ilha sempre será forte na disputa do carnaval, e na eterna luta do rochedo com o mar...
É hoje o dia, da alegria, e a tristeza, nem pode pensar em chegar! Até mais, Danilo Jesus
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