A MÃO DO SAMBA.
- Danilo de Jesus
- 1 de out. de 2015
- 5 min de leitura

O samba opera Milagres!
Essa é uma frase que eu sempre afirmo em minhas conversas sobre essa energia que me une a tudo que mais gosto nessa vida. O samba, que serve pra comemorar, para curar desilusões amorosas, para reencontros e despedidas. Já comentei, em outro texto, sobre a tatuagem que tenho em meu braço direito com a figura de Ojuobá, em homenagem a esse desfile maravilhoso que mudou minha vida (Mocidade Alegre 2012). Agora quero falar de algo mais íntimo e delicado...
Na preparação para o carnaval seguinte, o de 2013, fui convidado para fazer o curso de coordenador de evolução da Mocidade, qual prontamente aceitei, e durante todo o curso passei pelos piores momentos da minha na vida, estava com minha mãe internada, na semana da conclusão do curso - minha mãe faleceu...
Foi como se um buraco se abrisse e eu caísse nele, parecia ser uma queda sem fim, onde meus pés nunca alcançariam o chão... E em meio a tudo isso, uma mão me puxou de volta, me trazendo de volta a tona, me colando no eixo, apontando uma nova diretriz, e principalmente, me dando um acolhimento incomum... A mão do samba! A mão e o colo dos amigos próximos e dos novos amigos que chegaram com o carnaval de 2013 que precisava ser colocado na rua. A Mocidade mandou me chamar, ou melhor literalmente ela foi me buscar... Me Senti tanto apoio, principalmente no colo da velha guarda, nas figuras de Tia Suely e Tia Glória, eu me senti em paz e acolhido, aliás essa minha Velha Guarda só me enche de orgulho....
Até hoje elas me pegam de canto as vezes, colocam a mão no meu peito e perguntam se eu estou bem. Me diz querido leitor, aonde, além do samba, a gente encontra pessoas dessa estirpe hoje em dia? Difícil... Mas não quero fazer um texto triste, pelo contrário, o carnaval de 2013 foi desafiador, pra mim primeiro, por tudo que estava passando na minha vida pessoal, e para a minha escola, a Mocidade precisava se firmar, o nosso campeonato no ano anterior foi questionado, no engasgo (devido aquele incidente de notas rasgadas) coisas que só denigrem a nossa festa! A mim, coube a missão cuidar de uma ala formada, em sua maioria, por meninas e mulheres, das mais diferentes personalidades, que almejavam sair de Chapeuzinho Vermelho Periguete.
Hoje em dia eu dou risada, mas foi um trabalho de respiração, transpiração, inspiração e muita paciência, para conquistar essas meninas e traçar um objetivo comum a todas elas, colocando a diferença de lado.. Focando no nosso trabalho na avenida, em nosso pavilhão...
E mais uma vez a mão do samba acalmou os ânimos, e foi conduzindo a ala para o sucesso. E posso dizer que, as sementes de amizade que plantei ali naquela ala, me dão frutos até hoje...
Graças a Deus! Mas o carnaval de 2013 me reservava mais surpresas...
Normalmente eu termino o desfile de São Paulo e como muitos amigos, sigo rumo ao Rio de Janeiro para ver aos desfiles cariocas...
Alias, o aeroporto Santos Dumont é quase um pós balada paulistano nos domingos de manhã de carnaval... Todo mundo se encontra, com seus desfiles realizados, e a sorte lançada... A grande maioria das pessoas estão morrendo de sono, pembadas mesmo... Mas carnaval é uma vez ano, e o fervo tem que ser aproveitado ao máximo.
Então, eu segui rumo ao Rio, com meu bom e confortável croc’s nos pés, meu óculos de sol, e o gosto de que o Bi campeonato da Mocidade era possível sim, e de fato foi! Mas haveriam mais surpresas... Boas, graças a Deus! Já na Sapucaí, aquele 2013 foi um carnaval de altos e baixos, desfiles irregulares e muitos sambas medianos, não sei se foi o cansaço, ou tristeza, ou se foram os dois, mas eu não consegui curtir aos desfiles, como sempre curto... Em um ano de enredos como Rock In Rio, Fama, Vinicius de Moraes, Cuiabá, Alemanha, Petróleo, nada me animava, nem mesmo a minha Portela conseguiu me fazer sambar com seu desfile sobre Madureira.
A São Clemente me empolgou um pouco com seu samba sobre novelas, mas nada demais, mal sabia que o melhor daquele ano ficou para o final... A Vila Isabel tinha o melhor samba daquele ano e fez o melhor desfile de 2013, ganhou por merecimento, mas antes da Vila, havia o desfile da Imperatriz Leopoldinense, e fui brilhantemente surpreendido...
Ok, confesso que mesmo acusada de perfeitinha e fria, eu gosto dos enredos históricos da escola! De fato, a técnica da Imperatriz ficou meio perdida com a saída de Rosa Magalhães, a escola perdeu o ar e a imponência que durante quase duas décadas foi a pedra no sapato das co-irmãs.
Entretanto em 2013 a escola encontrou no carnavalesco Cahê Rodrigues uma nova formula de desenvolver enredos e fazer carnaval... Carnavalesco de muito bom gosto, mesmo sem ainda ter título no grupo especial, (isso logo acontecerá, pois ele merece).
O enredo da escola de Ramos para esse carnaval foi uma bela homenagem ao estado do Pará, tema mais que batido, mas que ganhou novos ares e roupagem, graças a criatividade e bom gosto do Cahê, rendendo a Imperatriz um quarto lugar, voltando ao desfile das campeãs... Não bastasse tudo isso, ainda havia o samba, e mais do que isso, nesse samba tinha um verso...
Veja que eu falo verso, sim, um verso ao fim do samba que mexeu comigo desde quando a escola apontou na concentração de seu desfile. Mesmo verso que essa semana quando lembrei desse desfile - voltou a mexer comigo, e que eu tenho certeza que daqui a 30 anos quando lembrar desse samba, esse verso mexerá comigo!
A primeira parte do tal verso faz reverencia a virgem de Nazaré, padroeira do estado do Pará, qual eu simpatizo muito, ainda hei de ir a festa do Círio de Nazaré, com certeza: Oh! Mãe... Senhora, sou teu romeiro, A ti declamo em oração: E é essa oração que arremata o verso que mexe comigo, me faz lembrar tanta coisa boa que eu vivi com minha mãe, um belo sopro de criatividade e poesia que o samba faz eternizar em nossas vidas. Oh! Mãe... Mesmo se um dia a força me faltar, A luz que emana desse teu olhar Vai me abençoar! E olha que nessa vida corrida, nessa rotina do dia-a-dia, a nossa força falta, falha, esmorece, fica muda, enfraquece a todo instante, mas nenhum momento ruim é mais forte do que a força da mão do samba, que nos toca em frente nessa caminhada... Minha mãezinha está no céu e está feliz, por eu viver o que gosto da forma que eu gosto, respeitando a quem eu amo...
A mão do samba, a mão de minha mãe...
Ambas estavam juntas me erguendo na Sapucaí para ver esse desfile, chorei (pra variar) chorei de saudades e de alegria, e quando choro ouvindo a um samba, eu repouso na paz que ele me dá! Obrigado ao samba, obrigado a Mocidade Alegre, e as tias Glória e Suely... Obrigado Imperatriz
Obrigado seus compositores e ao Cahê,
Obrigado aos compositores de Ramos, por esse samba e desfile tão especiais a minha memória e ao meu coração!
Até mais,
Danilo de Jesus
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