top of page

MESMO COM O PALCO APAGADO, A APOTEOSE É O INFINITO.

  • Danilo de Jesus
  • 12 de ago. de 2015
  • 5 min de leitura


Hoje eu quero escrever sobre um samba, na verdade quero usar esse samba para tentar traçar um pensamento e entender os mecanismos que levam uma escola a definir um samba enredo. Há algum tempo atrás, ou melhor, a bastante tempo atrás eu ouvi um samba do saudoso Roberto Ribeiro chamado “Estrela de Madureira”, depois ouvi outras regravações do mesmo (Leci Brandão, Jorge Aragão, Grupo Revelação, etc) talvez você não esteja ligando o nome ao samba, vale a pena ouvir tamanha preciosidade: E o trem de luxo parte, para exaltar a sua arte... que encantou Madureira Mesmo no palco apagado, a apoteose é o infinito, continua estrela brilhando no céu. O que esse samba tem de tão especial? Em 1975 na tradicional escola da Serrinha Império Serrano decidiu levar para avenida uma homenagem a maior vedete do teatro de revista do subúrbio carioca, Záquia Jorge, e na final da escolha dos sambas, os dois finalistas eram o samba do compositor Avarese e o Estrela de Madureira (como foi batizado esse samba) composição de Acyr Pimenta e Cardoso. Ai que deu, pra desespero de muitos Imperianos, o samba do Avarese – obra de boa qualidade, mas que hoje não entraria na galeria dos grandes clássicos da escola. Os motivos que levaram a essa escolha são muitos, e poderíamos escrever artigos e artigos à respeito deles, mas o importante é levar em consideração alguns fatores. Depois do Pega no Ganzê, Pega no Ganzá do Salgueiro – no inicio da década de 70, houve uma grande mudança de estética nas composições de samba enredo, se antes eles eram grandes, detalhistas, com melodia trabalhada e português rebuscado, depois do sucesso do Salgueiro, os compositores começaram a pensar em coisas mais populares, curtas e que tivessem grandes momentos de explosão, virassem o famoso chiclete. E nessa pegada a Império deixou de levar pra avenida o Estrela de Madureira, claro que nunca saberemos se de fato esse samba funcionaria em um desfile, é algo que nunca podemos afirmar que sim ou que não...

Fica somente o registro, que escolhas de samba sempre são complicadas. Essa época do ano costumam ser as mais delicadas dentro de escola de samba – de certo cada escola escolhe a forma de definição do hino para o próximo ano e nisso, alguma preferem fechar uma obra encomendada – sem abrir para comunidade participar, em outros casos só há semi final e final, como diz uma amiga diretora minha (cada uma dentro do seu melhor) achando o que é melhor para si. Mas a via de regra o processo de eliminatórias, escolhas, chapas são estressantes e divertidas, parceiras são criadas, surge divisões de onde menos esperamos, irmão desconhece irmão, pessoas que nunca se falaram passam a torce juntas, é um grande caldeirão preste a entornar... Mas temos que acreditar que é em prol de um objetivo maior, tudo isso a favor da estrela maior de uma casa de samba – o pavilhão! Nunca houve uma fórmula única para um samba enredo de sucesso, na verdade há inúmeras fórmulas... Puxando a sardinha para meu lado portelense, a qualidade da ala de compositores de Madureira é algo inquestionável, prova disso é que nos últimos 5 anos a Portela vem com sambas antológicos, uns falam qua são sambas com características antigas indo contra o oba oba de hoje em dia, outros dizem que é sorte de portelense, eu acredito que seja experiência, talento e inspiração, coisas como no samba do João Nogueira “ Ninguém faz samba só porque prefere, coisa nenhuma no mundo interfere, sobre o poder da criação” bem isso! E em 2016 não será diferente, a Portela está em festa com sambas lindíssimos, assim como a vizinha já citada, Império, que terá trabalho para definir seu samba de 2016 – também o enredo em homenagem a Silas de Oliveira é além de merecida, muito necessária, em valorização ao compositor de samba enredo, que muitas vezes vivem de alegrias passageiras, sem perde a esperança de ser escolhido... E Silas foi o maior de todos eles! Pelo menos no Rio de Janeiro, a safra de 2016 tem tudo para ser a melhor em muitos e muitos anos, pelo o que se comente e o que se ouve, os compositores estão se reinventando, criando suas próprias formulas de sucesso e com a mão inspirada para escrever. Temos Salgueiro, com mais de 40 sambas para escolher apenas um, e como a escola não é melhor nem pior, apenas gosta de ser diferente, a escolha deles esse ano será diferente, em esquema de mata mata como um campeonato de futebol, vamos acompanhar e ver o resultado de tamanha criatividade... Boas parceiras (times) estarão no certame, sambas com a cara da escola, com a garra da escola, que é tudo que o sambista quer, ir pra avenida com um samba que o represente em melodia e emoção. Eu tenho ouvido poemas belíssimos em disputas na São Clemente, Estácio de Sá, Mocidade Independente e pros lados da verde e rosa, reza a lenda que Bethânia rendeu uma das melhores safras dos últimos anos, um fenômeno! Só o fato do mestre Nelson Sargento, Leci e Tantinho da Mangueira comporem obras para disputa, já é motivo de festa na Mangueira, que tem tudo para trazer um samba a altura de sua homenageada, destaco a obra da parceria do Lequinho – samba com propriedade e identidade única como a menina de Oyá (Hoje a pedrinha miudinha de Aruanda, é o patuá da nossa Estação Primeira) é lindo demais de ouvir e imaginar na avenida! Eu não poderia deixar de falar dessa obra que está na disputa da Imperatriz Leopoldinense, o samba da parceira do Zé Katimba, aos 82 anos, Zé Katimba – único fundador vivo da Imperatriz e pertencente a sua ala de compositores de 1969, compôs, na minha humilde opinião, a melhor obra de samba enredo desse ano! E olha que o enredo da escola é bastante polêmico, mas polêmicas a parte – o gênio, autor do samba campeão da Imperatiz de 1980 (ano que a escola se firmou finalmente entre uma das grandes do carnaval) compôs um senhor de um samba, que desde o primeiro momento que eu ouvi, chorei! E não há resposta mais afirmativa e positiva a um samba do que o choro, quando se ouve o mesmo. Vale muito a pena procurar esse samba no youtube! Depois me digam o que acham! O mais legal é vermos Zé Katimba, nos altos de 82 anos colocando no bolso muito autor novinho de refrão chiclete, no bolso! E olha que o cara não é autor somente de samba enredo, Zé Katimba também compõe sambas para muita gente famosa (Disritmia – Martinho da Vila entre outros), mas esse samba enredo é um caso a parte, com melodia ímpar, letra e versos que são um poema, quando falamos de fórmulas certas para compor um samba, as vezes a inovação pode ser em voltar ao passado, desacelerar um pouco, priorizar outras coisas na composição de uma letra... O carisma do samba, a simpatia da comunidade são fatores importantíssimo, mas desfile de escola de samba é um concurso, com regulamento de para avaliação e esses aspectos tem o mesmo peso de importância na hora da escolha.... Mas como diz no próprio samba do Zé Katimba: “Se toda história tem inicio, meio e fim, a nossa começou assim”... Que essa escolha possa ser somente o começo desse samba, e que daqui a 20, 30 anos ele ainda seja lembrado indo ou não para avenida (isso é com a Imperatriz), mas assim como o Estrela de Madureira, mesmo não sendo o escolhido – ele nos escolheu e viverá eternamente na memória dos sambistas... Ou melhor, o próprio samba fala em seus versos: Mesmo com palco apagado, a apoteose é o infinito! Bonito né? Parabéns Zé Katimba! Salve, salve os compositores de samba enredo, boa sorte a cada um deles...

Que 2016 seja de fato um ano especial para o samba! Até mais Danilo Jesus


 
 
 

Comments


Ser Sambista 

 é um eterno exercício de Felicidade 

  • White Facebook Icon
  • White Instagram Icon

© 2023 por Tipo Diva Blog | Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page