PEITO ABERTO E SEM MEDO
- Danilo de Jesus
- 16 de jul. de 2015
- 5 min de leitura

Carnaval têm algumas coisas que são inexplicáveis e o charme dessas coisas, está realmente nisso, não ter explicação lógica.
O samba é movido a emoção, e onde a emoção grita - a razão na maioria das vezes não tem voz!
Eu queria, aliás, eu precisava – essa é a palavra - escrever sobre essa escola de samba qual tanto eu admiro, ouso a dizer que, se Mocidade Alegre eu não fosse, certamente Acadêmicos do Tucuruvi eu seria, e porque disso?
Vou explicar, na verdade eu meio que estou aqui para isso. Meu querido leitor, chega a ser difícil começar, mas a escola que fica ali ao pé da Serra da Cantareira é simpática, ela é leve e faz aqueles carnavais com ar de inocência, as vezes até com enredos ingênuos, se fomos comparar com o rocambolismo das tendências de algumas escolas de São Paulo nos último anos. Mas nem por isso ela deixa de ser competitiva, essa escola da Zona Norte vem comendo pelas beiradas, principalmente nesses últimos anos, qualquer hora a comunidade do SEO Jamil vai soltar o seu É Campeão e eu como sambista que sou, ficarei muito feliz...
Como o povo do Tucuruvi é: Feliz! Há cerca de uns 10 anos atrás - na famosa arquibancada monumental, eu conheci um simpático folião chamado Lamartine, empolgadíssimo como eu, daqueles pula em todas as escolas, que canta todos os sambas, uma figura, mas o mais legal é que o Lama (apelido desse amigo) é torcedor fanático da Acadêmicos do Tucuruvi, eu olhava e achava um barato, por mais simpático que a escola seja, são raros seus torcedores, conhecer o Lamartine foi uma das coisas mais bacanas que o samba me deu! No ano seguinte lá estava ele, com um detalhe dessa vez ele ia desfilar, e foi assim ano a ano o Lamartine conosco, acreditando em sua escola, até que numa de nossas conversas, entre um desfile e outro, eu descobri que meu amigo era alagoano, e que vinha todo carnaval para São Paulo desfilar pela sua escola, fiquei em choque. E pensando, as vezes a gente que se diz sambista fica numa preguiça tão grande de ir no ensaio de nossa escola ali no nosso bairro mesmo...
E vem o Lamartine, atravessando estados pela sua escola.
É de emocionar! Eu lembro em 1998 quando a escola retornou (de uma vez por todas) ao grupo especial, com um enredo sobre pirataria, contrabando. A novidade da até então pequena escola, eram a voz marcante do Waguinho e um Gafanhoto em seu abre-alas.
O narrador daquele ano da Globo, Cleber Machado (creio que era ele) afirmava que era tradição na escola levar o Gafanhoto em seu abre-las, já que Tucuruvi em Tupi Guarani significa gafanhoto verde, achei legal...
Pena que essa “tradição” não vingou, creio que esse símbolo apareceu em apenas mais dois carnavais da escola.
Em 1998 a Tucuruvi não caiu pois o regulamento não rebaixaria nenhum escola, o que ajudou a escola se estruturar e em 1999 conseguir um incrível 5 lugar, falando sobre o estado de Santa Catarina e em 2000 ficou em 6 lugar, sendo sorteada para falar sobre um dos períodos mais sombrios de nossa história...
No carnaval do descobrimento, coube a Tucuruvi o período de 1964 até 1984, uma responsabilidade que na voz do Preto Jóia contratado pela escola, virou um belo carnaval. Agora é inquestionável o carnaval de 2001 da Tucuruvi, um dos mais encantadores da escola, um samba gostoso, tendo como ponto alto sua bateria, na época Mestre Jorjão “o famoso pela batida funk” estava a frente dos ritmistas que deram um sacode no Anhembi, depois dessa passagem a bateria da escola ganhou forma e características que existem até hoje, pra mim, eles tem uma das melhores baterias de São Paulo, grande, pesada...
Muitas vezes a gente olha e pensa, meu Deus eles não vão caber no recuo...
Mas sempre cabem! kkkk
Ou mestre que ajudou muito não só a bateria da Tucuruvi, como a escola no geral – foi o craque Mestre Adamastor...
Os desfiles mais competitivos da Tucuruvi aconteceram enquanto ele estava na escola. Isso é reflexo de trabalho sério, coeso e acima de tudo com o olhar para a comunidade...
Que ama a sua escola, seu bairro, e tem como não amar?
Ela leva seu chão, e o seu lugar está em seu nome, a identificação flui, e cada dia mais as pessoas do Tucuruvi (bairro) reconhece a escola como patrimônio cultural de seu bairro.
E isso sempre é muito bom, e prova dessa identificação é o apelido carinhoso e que pegou muito nos últimos anos dentro do mundo do samba. O Acadêmicos do Samba do Tucurvi, virou ZACA, derivativo de linguajar, da informalidade e carinho o ZACA vem do DOZACADÊMICOSDOTUCURUVI...
Ai para encurtar a história, virou o ZACA! Entendeu mané! No Carnaval de 2011, com a quebra do carro de minha escola, eu peguei o ZACA para torcer, durante a apuração a escola cresceu, firmou, assustou e por muito pouco não tirou o campeonato do Vai Vai, o tema da escola naquele ano era a Migração Nordestina e a importância dela para a cidade de São Paulo, um enredo que fala ao coração, ao meu pelo menos que tem na família o sangue do cabra da peste -Um samba delicioso, e a estética simples e de muito bom gosto criada pelo Wagner Santos, foi empolgante e a reinvenção da escola, que desde então está vindo sempre muito bem.
A exemplo disso são os desfiles sobre São Luis do Maranhão, sobre Mazzaropi (que samba era aquele) isso sem falar no carnaval desse ano, um desfile leve e extremamente poético, mais uma vez com um dos melhores sambas do ano sobre as Marchinhas de Carnaval, me diz, tem como não amar? ....Hoje faço a festa na Avenida... Taí o Carnaval da minha Vida!... Esse texto eu dedico ao querido amigo Lamartine, alagoano que ama o carnaval de nossa cidade, pessoa de bom coração e reflete isso em seu trabalho no campo, entre flores e hortaliças...
Belo cenário e a cara da escola, que prima pelo simples e verdadeiramente belo...
Dedico também a dona Edna que onde estiver eu tenho certeza que está guiando sua escola para o caminho da vitória, uma hora eles chegarão - não tenho dúvida!
A conheci em uma das primeiras 24 horas de samba da Mocidade que participei (ainda como folião), uma simpatia, que hoje reforça o time do samba lá no céu! Eu torço muito pelo ZACA, que le continue sendo uma das mais simpáticas agremiações da cidade, sem medo de ousar pelo simples e bom gosto, com sambas de qualidade, valorizando a cultura de nosso país.
Torço para que a escola nunca perca seu jeito de fazer carnaval, em nome do que “os entendidos de samba” acham correto!
Que Deus abençoe SEO Jamil e toda sua comunidade,
Que sempre vem pra disputa com o peito aberto e sem medo algum de ser feliz para brincar o carnaval!
Até mais, Danilo Jesus
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