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SAMBISTA NÃO VAIA SAMBISTA

  • Danilo de Jesus
  • 21 de mai. de 2015
  • 6 min de leitura

Desde os tempos mais remotos a humanidade veio em seu progresso cultivando rivalidades, seja entre povos, castas sociais, tribos indígenas, cantoras de axé, países, enfim, tudo é motivo para se ter uma rixa.

Prova histórica disso está no período das grandes navegações, Portugal e Espanha duelavam pelo domínio dos oceanos, essa rivalidade foi um marco para a humanidade, Colombo a mando da coroa Espanhola disse que a terra era um Ovo – se lançou ao mar e descobriu a América, Portugal mandou Cabral às Índias e ele descobriu o Brasil, a rivalidade entre Espanha e Portugal fez com que a civilização do antigo continente chegasse ao Novo Mundo.

Outro exemplo de rivalidade, dessa vez mais simples foi entre as cantoras Emilinha e Marlene, que disputavam preferência nacional nos áureos tempos das Rádios, essa rivalidade (a bem da verdade mais entre os fãs de ambas cantoras) contribuiu imensamente para a nossa cultura popular, para nossa música.

Quero deixar bem claro e também separado dessa conversa sobre rivalidade, os aspectos políticos e esportivos, FlaxFlu, PalmeirasxCorinthians, PTxPSDB, GreNal, ou como vimos semana passada na Argentina BocaxRiver, esse último alias mostrou que ali não é mais rivalidade, e sim selvageria.

Vez ou outra no mundo do samba aparece algo parecido, a vítima dessa vez foi a Beija Flor de Nilópolis, representada pelo seu primeiro casal, os excelentes Claudinho e Selmynha – um dos casais mais premiados da história do nosso carnaval, e pela sua velha guarda da Escola, que foram vaiados durante a festa de entrega do trófeu Sambanet.

E os culpados?

Os anônimos - selvagens, bem esse tipo de gente trabalha na surdina, no anonimato, só criam coragem quando estão em bando ou atrás da tela de uma computador ou celular, e infelizmente de tempos em tempos incomodam a gente que ama o samba.

Isso só prova que os avanços tecnológicos tem sua importância, mas que contribuíram para o "embestalhamento" do Sambeiro “sabe aquele fulano que se diz ser sambista” que com um celular na mão e uma rede social com mais 10 seguidores se armam para ofender, para humilhar a qualquer um, (na grande maioria das vezes) são textos, asneiras repletas de erros de português.

E esse tipo de gente precisa de platéia, muitas vezes conseguem essa platéia através de Facebook, Instagram, Whastapp, e ainda usam essas ferramentas como escudo...

E digo mais, quem curtir ou compartilhar o que esse povo posta, por mais indignado que diz estar, na verdade compactua para o sujeito achar que a platéia dele está aumentado.

Outro exemplo, e esse acaba com todas as surpresas que as escolas querem levar para avenida...

É o que ocorre nas baias das alegorias na semana do carnaval. Um festival de celulares divulgando, compartilhando e criando mimimi com Deus e o mundo, dai quando chega na hora do desfile o fator surpresa se perdeu...

“Ah eu vi aquilo ali naquele grupo que fulano participa e printou a tela para compartilhar comigo”.

Lastimável! Isso acaba com a magia da festa!

Voltando ao ocorrido com a Beija Flor!

De certo o campeonato da escola esse ano foi muito questionado, principalmente pela a grana recebida do governo da Guiné, esse questionamento é válido?

Talvez, mas isso cabe para algum órgão do direito da humano ou coisa parecida. Para o samba, o fato é que a Beija Flor provou mais uma vez que sabe ganhar carnaval, e o ganhou! Agora, não reconhecer o título da Beija Flor é um enorme desfavor ao samba, um desmerecimento do espetáculo, uma falta de respeito a lisura do concurso em si.

Os sambeiros presentes a quadra da Tijuca, durante a festa do Sambanet não vaiaram o governo da Guiné ou a sua ditadura, ali eles vaiaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis, escola que foi um divisor de águas na história das escolas de samba ajudando o carnaval se torna o que é hoje, exigindo que as demais escolas “as mais tradicionais” se modernizassem nos anos 70, eles vaiaram a escola que entre tantos carnavais inesquecíveis - levou pra avenida mesmo que proibido o Cristo Mendigo, eles vaiaram a escola que tem um dos melhores canto e comunidade do carnaval carioca.

Esse povo parece não ter memória, principalmente os mais novos, com certeza essas vaias sairam de cabeças que nunca se aprofundaram na essencia do samba, essa geração smartphone, que acha que o carnaval começou com Paulo Barros (nada contra o trabalho do Barros) mas o carnaval e os desfiles de escola de samba são um eterno processo de evolução plastíca, artistica, técnica, etc, e que nos tempos atuais tem o nome do Barros como maior expoente, mas meu querido leitor, o samba completará 100 anos em 2016 foi feito com muita história, com muita raiz e também com muitas revoluções, importantes para determinadas épocas, o problema é que e essa molecada de novos “sambeiros” não estão nem ai pra isso, para eles o que vale é a platéia nas redes sociais, o jogo do pão e o circo chegou ao mundo do samba se vendendo em troca de likes e seguidores.

Amor nenhum por um pavilhão justifica ou dá direito a qualquer cidadão desrespeitar o pavilhão de uma outra escola, aqui em São Paulo há escolas de sambas que são ligadas a times de futebol, sempre o efetivo policial e a organização dos eventos de carnaval trabalhou para evitar o encontro dessas torcidas, evitar que desfilem no mesmo dia, são medidas necessárias sim! Mas a realidade é que graças a Deus, nunca tivemos um caso de briga entre torcidas rivais dessas escolas no carnaval, eles se comportam em nome do samba, claro yamém porque sabem que estão sendo vigiados, mas respondem a essa desconfiança do entorno fazendo belíssimos espetáculos.

Portela e Império Serrano no Rio, dividem o mesmo bairro - quase que a mesma rua, ambas são grandes, ambas são importantes, ambas têm raízes e torcidas apaixonadas que convivem bem há décadas, quem ganha com essa união é o bairro de Madureira. Peruche e Mocidade Alegre nos últimos anos são vizinhas de porta, convivendo tranquilamente e agora em 2016 ambas estarão no grupo especial e vão desfilar no mesmo dia, e garanto que tudo ocorrerá na maior santa paz, porque ambas precisam que as coisas ocorram assim.

A rivalidade no samba sempre existiu e o fez crescer, mas com respeito acima de tudo.

O Cacique de Ramos e o Bafo da Onça durante anos foram blocos rivais do carnaval carioca, cresceram juntos e hoje são admirados e respeitados no carnaval como dois dos maiores e mais tradicionais blocos.

Mas de uns tempos para cá, infelizmente, a uma escola que ganha o carnaval, automaticamente no ano seguintes se torna vidraça e as coirmãs dela, pedras!

A rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo sempre foi pauta de telejornal na época de carnaval, hoje se fala menos disso, pois a troca de experiência entre profissionais de ambas cidades só contribui para o crescimento da festa nas duas. Não cabe comparação, muito menos rivalidade. Rio e São Paulo fazem carnavais diferentes, tem regulamentos diferentes, técnicas de desfiles diferentes, investimentos diferentes e principalmente cada carnaval, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo evoluem de um ano para outro em comparação a si próprio, e não na comparação com o carnaval do estado vizinho.

É besteira pensar assim.

Como sambista, eu sinto uma vergonha alheia por esses ditos “sambeiros” que vaiaram a Beija Flor no evento do Sambanet, nos quase 100 anos de samba eu me pergunto: Não foi pra isso que lá no início do século passado, Tia Ciata e os bambas que frequentavam a sua casa se juntaram para compor a letra de “Pelo Telefone” nosso primeiro samba?

Não, não foi!

O samba MERECE um tratamento melhor, ele que já foi muito marginalizado, o samba era coisa de morro, era coisa de preto, o samba era coisa de pobre...

Mas ele venceu, o samba atravessou um século e hoje é patrimônio cultural do nosso país. E as Escolas de samba, como o nome diz, sevem para se ENSINAR o cidadão a ser sambista, ensinar a se ter respeito por uma comunidade e seu pavilhão.

Esses são os ensinamentos são básicos dentro de uma Escola de Samba!

Mas pode ter certeza sempre que um sambista de verdade ver esses ensinamentos serem deixados de lado, alguém vai começar a cantar:

“Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar..

O morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar”

Até mais

Danilo Jesus


 
 
 

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