QUANDO A ÁGUIA DE OURO SALVOU O CARNAVAL DE SÃO PAULO
- Danilo de Jesus
- 6 de mai. de 2015
- 7 min de leitura

Algumas escolas quando passam na avenida carregam consigo uma áurea positiva que faz com que a arquibancada cante junto, torça e vibre por ela. Normalmente escolas tradicionais ou “as da moda” conseguem essa façanha, aqui em São Paulo posso citar a Gaviões ou a Vai Vai, no Rio temos o Salgueiro e a própria Tijuca com os desfiles do Paulo Barros. Quando acontece de uma escola fora desse perfil alcançar essa proeza, pode ter certeza, que ela deu show de ritmo e exuberância em seu desfile, isso é difícil? Claro que é, mas não impossível... A prova dessa afirmação vem da Pompéia, nunca ganhou nenhum campeonato e já teve algumas quedas ao grupo de acesso, mas no ano de 2007, a Águia de Ouro fez o Anhembi vibrar como poucas vezes vibrou, terminando sua apresentação sob gritos de “É CAMPEÃ!”, essa sensação de ganhar sem ter ganho, foi o que salvou o carnaval de 2007 de São Paulo, e que é o tema de nossa coluna dessa semana. Aquele 2007 foi um ano de muitos altos e baixos no carnaval paulistano, para falar a verdade foi um ano de mais baixos que altos, depois de um número absurdo e cansativo de 16 escolas, nesse ano o carnaval de São Paulo voltou a ter apenas 14 escolas na disputa do grupo especial. Houve alguns poucos desfiles maravilhosos e outros muitos cansativos. Na sexta por exemplo, a avenida de fato “se animou” (bem entre aspas mesmo) na apresentação da quarta escola – A Império de Casa Verde – na epoca em busca do tri campeonato apresentou um de seus carnavais mais luxuosos, se não o mais, com o enredo sobre os grandes Impérios da história da humanidade, a escola da zona norte veio com aqueles 5 tigres imensos em cores diferentes e um gigantesco leque em seu abre alas, lembro da arquibancada de boca aberta vendo a escola, qualquer conversa ou sambadinha, poderia tirar a atenção dos olhos para algum detalhe do desfile monumental da escola. Mas, mesmo com tudo isso a Império ficou longe do sonho do tri, alcançando um quinto lugar. Naquela noite, antes da escola da Casa Verde, haviam se apresentado a Imperador do Ipiranga que contou a história da Siderurgia e do Aço, em um desfile cheio de problemas de harmonia e com um samba cansativo. Depois tivemos a X-9 falando sobre as tintas, num carnaval colorido onde só me recordo da comissão de frente repleta de bailarinas e de uma simpática formiguinha que se tremia toda atrás da última alegoria, não sei se era intencional aquela tremedeira toda ou se ela estava de fato meio bamba. E antes da Imperio, também teve a Tom Maior falando sobre a os trabalhadores e a luta pelos direitos trabalhistas, um enredo, samba e desfile, que não me agrada, não pela escola – eu adoro a Tom, mas esse tipo de desfile social “político” me dá uma preguiça imensa. De fato foi uma primeira noite muito cansativa, pois as quatro primeiras escolas não empolgaram o público, mesmo a Império, o gigantismo e beleza muitas vezes faz com que o público não veja a apresentação como um desfile de samba e sim como uma apresentação da Brodway. A quinta escola da noite também veio com um tema social, sobre reciclagem, a Tucuruvi se apresentou com uma bateria maravilhosa, mas o cansaço do público foi indiferente a isso e a escola não conseguiu empolgar a arquibancada, eu mesmo já pensava em ir embora, quando as 5h e pouco da manhã, surge a Vila Maria, com a faca e o queijo na mão pra levantar a arquibancada, um samba excelente e o arquibancada necessitando de um desfile bom, era tudo que aquela noite precisava... Foi um desfile muito bom, a escola falou sobre a cidade de Cubatão (também retratou a poluição!), mas na minha opinião foi o melhor e mais animado desfile da Vila Maria que eu vi (muitos falam do desfile sobre o Japão em 2008), mas esse para mim foi superior e rendeu a melhor colação a escola – um segundo lugar, inédito! Fechando aquela noite, a Nenê homenageou o Grupo Bandeirantes de Comunicação, através da figura de João Jorge Saad... Não foi o melhor enredo, nem o melhor desfile da Vila Matilde, mas sempre quando essa escola pisa na avenida, o povo se anima e pula junto, confirmando a ideia inicial desse texto, a Nenê sempre emociona a todos, mesmo quando desfila muito aquém de seu potencial. Com uma primeira noite problemática as fichas estavam todas nas escolas da segunda noite, afinal, haviam Vai Vai, Mocidade e Rosas no sábado. Quem abriu o segundo dia foi a Pérola, que conseguiu se manter no especial. Mesmo com uma de suas alegorias quebradas, a escola conseguiu colocar o carro no fim do desfile sobre a pirataria, o samba animado na voz do craque Douglinhas também ajudou muito. Lembro do povo vibrando quando viram a alegoria com problema entrando na avenida (ah antes que eu me esqueça, esse ano eu assisti aos desfiles na arquibancada J, a primeira do lado da Olavo Fontoura)... Mais pra frente essa informação será útil. Realmente, a segunda noite mostrou-se mais animada, depois do Pérola tivemos o Vai Vai, com o enredo sobre o plástico, mais um enredo difícil, com levada politicamente correta, mas na mão da Saracura aquilo ficou muito bom, agitou a avenida mesmo com um refrão imenso, coisas que só quem tem comunidade e chão consegue fazer, a apresentação rendou à Vai Vai o terceiro lugar daquele ano! Após a escola do Bixiga, entrou a Peruche com uma simpática homenagem à Mauricio de Souza e sua turma da Mônica, plasticamente falando a escola não conseguiu realizar um grande desfile, o que é uma pena, pois a Bateria Rolo Compressor deu um show, durante esse desfile lembro de uma família que estava próximo a mim na arquibancada, todos eles eram Peruche doente, do nada apareceu um mané qualquer (qual eu não vou me referir a que escola torcia) que estava passando por ali começou a zombar deles, lembro das palavras de uma senhora torcedora da Peruche, ela baixinha se agigantou e falou: “Antes de sua escola e você nascerem, eu e minha Peruche já eramos tradição no carnaval, me respeite, se não sabe respeitar uma escola, não sabe respeitar o samba e seu lugar não é aqui” – Gênia, nem preciso dizer que o mané sumiu. Essas coisas acontecem muito nas arquibancadas de São Paulo, é deprimente quanto as torcidas se faltam com respeito, prestando um “desfavor” ao samba paulistano! Voltando, depois da Peruche, veio a Mancha com um samba até agradável para uma temática de desfile complicada, para falar a verdade eu mesmo não entendi a proposta até hoje, foi uma mistura de Bíblia, cavaleiros do apocalipse, virgem maria e carnaval, coisas da mente do controverso carnavalesco Cebola. Dai que a Aguia de Ouro começou seu desfile, logo de cara a bateria veio a frente do abre alas, para delírio do povo! A escola começou aquele desfile a mil por hora e soube mantê-lo assim. Um dos melhores samba do carnaval, sobre um enredo simples e lindo – artesanato brasileiro... Cheio de cores, cultura, uma abre alas todo trabalhado em tons terrosos de barro. Nunca tinha se visto a Águia desfilar assim, o povo estava delirando, num carnaval que até então estava enfadonho, aquele desfile foi um balsamo para o sambista: Amor hoje a festa é pra você, sou da Pompéia, pode crer, no carnaval da ilusão, minha arte é fascinação! Mais que uma letra, aquele samba da Águia tinha melodia, era poético, eu ali do primeiro setor fiquei doido, olhava a arquibancada monumental, do lado oposto ao meu, só que mais a frente vibrando com o que a escola apresentava. Cada parada da bateria, aquilo explodia de felicidade. Eu daria um dente da frente pra mudar de setor para ver aquele desfile de outro ângulo... E para terminar, ao fim da apresentação o Anhembi todo, pois se na minha arquibancada e na da frente a minha o grito de “É Campeã” explodiu, avalie nos últimos setores? A Águia não levou o campeonato, ficou com um quarto lugar e a sensação de grandeza! Naquela noite ainda tivemos a apresentação da Rosas de Ouro, foi a penúltima a desfilar com um um enredo sobre a importância da Mãe Terra e o descaso do ser humano com a natureza (de novo, esse assunto em 2007). Bom eu não sei se foi o samba que não ajudou muito, ou se povo ainda estava na ressaca do desfile do Águia, mas faltou a explosão no desfile do Rosas, explosão que o próprio samba citava, aquele desfile da Roseira lhe rendeu apenas um sexto lugar. E fechando aquele problemático carnaval de 2007, desfilou a Mocidade Alegre, que em um ano de temáticas pesadas e (politicamente corretas), apostou em levar um tema abstrato e leve, a escola falou sobre o Riso e foi a grande campeã do carnaval, reafirmando aquele ditado antigo - que os últimos serão os primeiros, ou seria o, quem ri por último ri melhor? Enfim, a Morada fechou os desfiles de 2007 com chave de ouro, apresentou um dos melhores sambas de sua história, fazendo um desfile de fácil leitura e entendimento, cheio de emoção, aliás aquele desfile da Morada confirmou que de fato a escola é movida a grandes emoções! Foi um desfile agradou ao público, aos jurados e até as co-irmãs reconheceram o campeonato da Mocidade Alegre! Mas a grande lembrança do 2007, sem dúvida foi a resposta do público presente no Anhembi ao desfile da Águia de Ouro, aquela apresentação da escola da Pompéia salvou o carnaval da mesmice de enredos confusos ou “politicamente corretos”, a reação do público é a prova disso, a arquibancada clamava por sambão, que foram raros naquela safra. A Águia pode não ter ganho, na verdade, a escola merecia sim algo melhor que apenas o quarto lugar. Entretanto a Águia de Ouro conquistou por mérito próprio, o que muita escola de samba campeã por ai não tem, o respeito de todo o mundo do samba e a admiração do público que assiste ao desfile, e cá entre nós, muitas vezes isso vale mais que uma taça. Abraços e até a próxima… Danilo de Jesus
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