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DO LARGO DO PEIXE, À SAPUCAÍ!

  • Danilo de Jesus
  • 24 de abr. de 2015
  • 5 min de leitura


Se você querido leitor acredita que esse texto é sobre o Tradicional Bloco Cacique de Ramos, ledo engano, nós também não falaremos sobre o samba da Bahia, não que esses dois assuntos não mereçam. Mas é que hoje eu vou falar daquela que a gente sempre vai amar, tirando em primeiro, em segundo, ou em qualquer lugar, hoje nós vamos falar de você... Nossa querida Nenê! Mais precisamente sobre o carnaval de 1985, ano em que a convite da organização do carnaval carioca, a escola da Vila Matilde desfilou na Marques de Sapucaí. Sim, caso você não saiba, já houve um desfile de uma escola Paulistana em terras Cariocas... Como o bom Matildense curti dizer no samba “Zona Leste somos nós” a Nenê vai do Largo do Peixe à Sapucaí! Nascida e criada na Zona Leste, a área mais populosa e carente da cidade de São Paulo, a Nenê tem na veia o sangue de guerreira, e isso sempre se refletiu em sua história. Tem como madrinha a Portela – trás a mesma simbologia da Águia e as mesmas cores, Azul e Branco. Até o ano 2000 a Nenê era a escola com maior quantidade de títulos do carnaval paulistano (10 campeonatos, o décimo primeiro viria em 2001), sendo considerada a campeã do século. São muitas qualidades, raiz e samba na história da Nenê, mas nenhum feito se equipara a honra de ser até hoje a única escola de São Paulo a desfilar no sambódromo carioca, em entrevistas – Alberto Alves, o saudoso Seo Nenê afirmava a glória alcançada no carnaval de 1985, como o maior feito de sua escola! O convite partiu do samba carioca, a Nenê estava em festa, depois de quebrar um jejum de 14 anos sem títulos, a escola ainda era convidada para desfilar no Rio de Janeiro. E para completar essa mistura cultural, o feito não podia ser com um enredo mais afirmativo e original (a Cara da Nenê de Vila Matilde) que o belíssimo enredo: “Quando o Cacique rodou a Baiana, ai ó!”. O tema político que tratava da luta do deputado Juruna – o samba tinha um refrão tão forte, sempre mexe comigo: “Negro também quer poder falar alto, Rodar a baiana chegar no planalto”. O tal cacique e deputado Mário Juruna era muito popular nos anos 80, vestia seu terno e gravata levando os problemas indígenas ao congresso Nacional, reclamando os direitos dos filhos da Terra, era um enredo popular, era um enredo social e se encaixou perfeitamente na proposta da escola, que queria falar também de igualdade de direitos entre índios, negros e brancos. Foi uma festa, a Nenê foi recepcionada por bambas como João Nogueira, Alcione, Martinho – que formaram um pequeno cortejo ou como preferir, uma comissão de frente que levou Sapucaí a dentro o desfile da escola paulistana. A comitiva da escola levou cerca de 2300 pessoas (85 ônibus), alguns adereços de mão, e utilizou alegorias cedidas por outras escolas do Rio... Tudo era farra, mas uma farra muito bem organizada pelo baluarte maior Seo Nenê, o verdadeiro cacique do samba paulistano, claro, a Nenê contou muito com a ajuda do governo carioca, afinal, a escola desfilaria entre a Beija-Flor de Nilópolis, no auge de Joãozinho Trinta, e a Mocidade Independente de Padre Miguel campeã carioca de 1985, a Nenê não podia e não fez feio... Ao contrário, foi elogiadíssima e pra variar, sua bateria foi o ponto alto do desfile. Seo Nenê sempre primou pela qualidade de sua bateria. Acredito que a qualidade da batucada da Nenê é fruto da exigência do Seo Nenê, que fazia questão de participar de ensaios e ver o trabalho de seus ritmistas. Carregar um surdo da Nenê até hoje, não é para qualquer um não. A escola tem uma afinação diferente, nenhuma outra escola de São Paulo chega perto, e é comparável com as melhores baterias do carnaval carioca. Mas a sabedoria dele ia além disso, seo Nenê sabia de todos os quesitos, sabia como colocar e tirar uma escola da avenida, mas seu melhor papel, sem dúvida, foi de pai da batucada da Vila, a verdade é essa, todos os grandes mestres que passaram pela Nenê, foram discípulos de Alberto Alves. É preciso se respeitar e muito a tradição Matildense, hoje é moda achar que escola boa é escola rica. Como sambista, eu sempre irei na contra mão disso que está sendo imposto às escolas de samba. Grana não pode ser tudo dentro de um desfile de escola de samba. Dinheiro algum paga a emoção de escutar o alusivo da Nenê no Anhembi, ou cantar a plenos pulmões um de seus muitos de samba excepcionais. Sem puxar saco dessa querida escola, mas é algo incomum a qualidade do samba da Vila Matilde. Outro ponto que vale ressaltar, poucas escolas tem tanto conhecimento, tanto embasamento para tratar da temática Afro como a Nenê, o componente da Nenê gosta dessa pegada e a escola sempre se sai muito bem quando vai por esse caminho. Ai, ai, e a torcida Matildense, um caso a parte... A Nenê é daquelas escolas que todo mundo simpatiza, independente da escola do coração, todo mundo gosta da Nenê, isso sem falar de sua torcida que é uma das maiores da cidade. Isso prova o porquê que aqui em São Paulo poucas escola seguram o publico na arquibancada como a Nenê de Vila Matilde, haja visto a quantidade de vezes que a Azul e Branco encerrou noites de desfile, e sempre com as arquibancadas lotadas em desfiles maravilhosos, e a natureza ajuda, lá no alto o céu sempre vai clareando lindamente para o povo da zona leste, como nos desfiles dos anos de 1997 e 2001. Aliás, quando muito se fala no humano nas alegorias feito pelo carnavalesco Paulo Barros, eu te faço um desafio. Vai no youtube e procura esse desfile de 2001 da Nenê, repara no abre alas, mulheres negras lindas, algumas seminuas, com guarda chuvas de rosas azuis nas mãos, dando todo sentindo e movimento ao carro, bem antes da alegoria do DNA que consagrou esse estilo em 2004 na Tijuca. Assim é a Nenê, pioneira, reflexo de seu fundador, uma escola de verdade, de raiz e família, que preza pela cultura do samba, a escola que é o Quilombo da Zona Leste - como eles gostam de falar. Em 2015 completam 30 anos de sua visita à Sapucaí... De lá pra cá, muita coisa mudou no carnaval, e a Nenê vem tentando acompanhar essas mudanças (estéticas, visuais, etc), mas meu amigos, em contra partida, tem muita escola de samba por ai que nunca acompanhará a bateria de bamba Matildense. É uma coisa deles, graças a Deus essa bateria pertence a Nenê! Tão querida, tão genial, tão necessária em nosso carnaval! Salve a Nenê e a sua Bateria! Salve Seo Nenê, como diz no samba de 2001: “E criou a escola de samba, a zona da paz... Unindo raças e classes sociais, verdade, todos nós somos iguais!”. Até mais Danilo Jesus


 
 
 

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