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NO LUGAR CERTO, NA HORA CERTA.

  • Danilo de Jesus
  • 17 de abr. de 2015
  • 5 min de leitura


Isso não é novidade para ninguém, eu sou Portelense e ponto. Bom é difícil, a gente nunca sabe por onde começar, afinal o fato de eu ser portelense faz com que qualquer coisa que eu escreva sobre a Portela se torne uma responsabilidade gigantesca. A verdade é que ser portelense por si só já é muita responsabilidade, e isso não é para qualquer um. Já que ser da Portela é uma questão de escolha, não uma escolha nossa... Mas da Águia, e quando ela te escolhe, meu amigo, não há como dizer não. Muitos são os motivos para uma pessoa se tornar portelense. Por exemplo, o fato da escola é ser a maior campeã da história do carnaval, com 21 títulos. Ou a Portela ter em sua história um inacreditável HEPTA campeonato. Outro ponto a favor, é a qualidade dos seus sambas e isso é inegável, a Portela tem um dos maiores acervos de sambas antológicos, sejam eles sambas enredo ou não.


Também, a pessoa pode ser portelense por que a escola tem uma bela história, a escola tem raiz e procedência... Ou até mesmo, uma pessoa pode virar torcedor da escola por conta de figuras como, Clara Nunes, Paulinho da Viola, do Seo Natal, Paulo da Portela, Marisa Monte, João Nogueira e seu filho Diogo, Zeca Pagodinho, Manacéa, Monarco, Candeia e outros tantos bambas de sua história. Não me faltariam motivos para que eu me tornasse portelense... Mas comigo a coisa foi diferente, eu sou portelense por uma questão de estar no lugar certo e na hora certa! Vamos pelo começo... Eu não fui portelense a minha vida toda, ou melhor, hoje eu sei que serei Portela pelo resto da minha vida, mas nem sempre foi assim. Eu sou de São Paulo e sempre adorei carnaval, nasci em maio 1984, ou seja, eu até hoje nunca vi a Portela levantar um título. Na minha infância e adolescência as escolas top eram Imperatriz, Mocidade a Beija Flor, sempre muito luxuosa, a Beija sempre foi uma das escola mais comentada nas transmissões aqui de São Paulo, isso despertou meu interesse por ela, claro que eu sabia da importância da Portela para a história do carnaval, mas até ai, eu a respeitava como deve se respeitar uma Mangueira ou um Salgueiro. E depois do enredo sobre as crianças em 1993, o da Bidu Sayão de 1995 e o título de 1998 – eu passei a torcer pela escola de Nilópolis. Ai os anos foram se passando, a maturidade chegando e em 2009 eu pude pela primeira vez ver os desfiles das escolas de samba na Sapucai. Tudo era novidade para mim, era um sonho que eu estava realizando. Naquele ano a Beija Flor foi a penúltima escola a desfilar na primeira noite, com o enredo sobre o Banho! – Se eu me emocionei? Sim, mas muito menos do que eu imaginava, algo naquele desfile não me tocou... Vi umas cenas envolvendo diretores de harmonias e baianas que me deixaram indignados, mas enfim, era minha estréia no Rio, nada podia me tirar a magia de eu estar ali e ainda havia uma segunda noite de desfiles pela frente. Já na noite de segunda-feira, eu ainda amargava o desfile da Beija, estava meio que desiludido (não tiro o mérito e competência da escola Nilopolitana), mas faltou algo em nosso primeiro encontro... Durante o segundo desfile da noite, o da Imperatriz, eu dei uma saída para ir comprar um lanche e na fila encontrei a Ane, uma carioca que fiz amizade ali na arquibancada (aliás, os amigos de arquibancada são amigos para a vida toda, fica a dica). A Ane é portelense, uma das mais apaixonadas que eu conheço, eu comentei com ela a minha tristeza pela falta de emoção que senti no desfile da até então minha escola. Ela olhou pra mim, colocou a mão no meu peito, abriu aquele sorriso que só ela tem, e disse com sua voz rouca – “Dani, relaxa, que tá vindo a minha Bela, você vai se emocionar, aguarda a minha Portela para ver o que é emoção!” – Eu sorri e voltei para a Arquibancada, vi o restante do desfile da Imperatriz, e logo na sequência, aguenta coração. Já no primeiro acorde do esquenta da Águia, eu vi a Ane em pé aos prantos, na verdade eu vi muita gente trocando de camiseta e colocando a da Portela por cima, eu vi pessoas mais velhas e muita gente nova também se levantando, muita gente simpática e principalmente eu vi muita gente emocionada a minha volta começando a cantar...


“Portela – eu nunca vi coisa mais bela, quando ela pisa a passarela e vai entrando na Avenida”... Aquilo mexeu demais comigo, não teve como não cantar junto, e como diz naquele samba do Paulo César Pinheiro – “Foi feito uma reza, um ritual”. Aquele esquenta foi o meu batismo, um renascimento como sambista, para mim e para a Portela também, que estava se reerguendo de mais uma crise política interna, a escola vinha de um quarto lugar e apresentava um enredo – “E por falar em amor... Onde anda você”, com um belo samba era do Diogo Nogueira, foi lindo, lindo demais... Quando aquela Águia Dourada apontou na Avenida, era como se ela estivesse vindo em minha direção com um pedido de casamento, e eu disse a ela: SIM eu te aceito, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, na alegria ou na tristeza, no primeiro lugar ou no acesso – a minha resposta é sim! E bem como o Rio que passou na vida do Paulinho da Viola, naquela noite a Portela passou na minha vida e levou consigo meu coração, igual ao samba: “Eu carregava uma tristeza, não pensava em outro amor quando alguém que não me lembro anunciou... Portela, Portela, o samba trazendo alvorada, meu coração conquistou... Ah minha Portela, quando vi você passar, senti meu coração apressado, todo o meu corpo tomado, minha alegria voltar... Não posso definir aquele azul, não era do céu, nem era do mar... Foi um Rio que passou em minha vida e o meu coração se deixou levar...” Sei que parece muito clichê, mas é a pura realidade, está ai a Ane que não me deixa mentir. E mesmo se tudo o que eu escrevi fosse invenção do meu coração apaixonado, a Águia em algum outro momento ou oportunidade daria um jeito de me encontrar. Sorte a minha! Parabéns minha Portela, pelos seus 92 carnavais, comemorados em 11 de abril. São 92 anos arrebatando sambistas mundo a fora, injetando a cor azul em nosso DNA, nos tornando súditos de sua Águia altaneira. Eu espero estar presente e festejar o seu centenário daqui a oito anos, quiçá desfilar suas cores azul e branco na passarela. Promessa de portelense é dívida, anotem ai! Sei que muitos dos que lerão essa coluna de hoje vão se emocionar por saber do que eu estou falando, a vaidade do Portelense gosta e merece ser afagada de vez em quando... Mesmo na fila a décadas, a Portela segue como a majestade do samba, ganhar é bom, aliás ganhar é ótimo, mas há algo muito maior em torcer pela Portela, que vai além disso, não tem como explicar, é sentimento sabe? Melhor é sentir. E caso você não torça pela Portela, pode se emocionar também, não tenha vergonha. Pois a Águia sabe que faz o seu corpo arrepiar, ela sabe que você não vai embora sem a ver passar. Bom, é difícil, mas eu vou parando por aqui, porque eu quando eu falo da Portela, também não sei terminar! Até mais Danilo de Jesus


 
 
 

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