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É TUDO UMA QUESTÃO DE ELEGÂNCIA

  • Danilo de Jesus
  • 9 de mar. de 2015
  • 5 min de leitura


Eu tinha 12 anos quando escutei essa frase pela primeira vez. Era uma madrugada de sábado das campeãs, pela transmissão da extinta e saudosa Rede Manchete, eu assistia a uma entrevista que o carnavalesco Renato Lage dava minutos antes da Mocidade Independente de Padre Miguel entrar na Sapucaí. Naquele ano, 1997, a Viradouro ganharia seu primeiro e até o momento único campeonato, apenas meio ponto a frente da Mocidade (lembrando que as notas ainda não eram decimais, e sim de meio em meio ponto). Na entrevista, quando questionado sobre o resultado, Renato foi curto e direto. Parabenizou a Viradouro e sua comunidade de Niterói, mas no entendimento dele um empate entre Viradouro e a Padre Miguel seria mais justo, mais bonito, seria tudo uma questão de elegância... Puxando pela memória daquele ano, fui buscar essa elegância citada pelo Renato, carnavalesco qual eu admiro muito, que isso fique bem claro! Naquele ano o carnaval carioca estava “inflado” com 16 escolas de samba no grupo especial, 08 em cada noite de desfile...

Tínhamos escolas entrando na avenida com o sol se pondo, e escola desfilando com o sol rachando a cabeça dos foliões! Confesso que tenho saudade dessa época, em que as escolas não eram tão enquadradas nas imposições da grade das redes de televisão...

E podiam se dar ao desfrute de entrar na avenida as 08 da manhã com público empolgado, ou melhor com o povo empolgado, pois hoje em dia na arquibancada o que menos tem, é povo... Foi um ano de desfiles memoráveis, enredos para todos os gostos e desgostos, de certo a safra de 97 não teve nenhum “Ita no Norte” ou algo parecido, mesmo assim teve uma grande quantidade de sambas bons, cito aqui os da própria Mocidade Independente, Grande Rio e o da Porto da Pedra, aliás a escola de São Gonçalo conseguiu a façanha de em seu segundo ano no grupo especial voltar entre as 5 melhores escolas, desbancado Imperatriz Leopoldinense, Portela, Vila e o Salgueiro, que vinha aquele ano com o mesmo enredo da Porto da Pedra, mas com uma abordagem diferente. E olha que Salgueiro e Porto da Pedra não foram as únicas a terem enredos semelhantes. A Acadêmicos da Rocinha trouxe para avenida o enredo sobre a Disney. Oi?

Isso mesmo, o primeiro enredo internacional da história do carnaval, que eu me lembre, claro! A Império Serrano não ia ficar atrás e escolheu o Beto Carrero como tema, e na disputa dos parques temáticos, ambas escolas deram as mãos na queda para o grupo de acesso. Junto com elas ainda caíram, a Santa Cruz com o original enredo sobre “Bandeiras” e a Estácio de Sá, que estava em numa ladeira abaixo sem fim, a escola do morro de São Carlos trouxe pra avenida, com muitas dificuldades, um enredo sobre a história do perfume, vimos a escola que a poucos anos havia sido campeã, desfilando um desastre na avenida, salva apenas pela a Bateria de mestre Ciça, que estava em uma noite inspirada, ele e seus ritmistas deram um show! Voltando a Elegância, ela esteve ausente na concentração da União da Ilha, que aquele ano contava a história do prefeito Pereira Passos, que fez o bota abaixo no centro do Rio no inicio do século passado. Em meio aos trabalhos de última hora para colocar a escola na avenida, mandaram embora o carnavalesco, o polaco Roberto Szanieski, que não é lá muito contido, mas daí a ser mandado embora em plena Sapucaí. Deselegantíssimo! Elegante mesmo foi o enredo da Unidos da Tijuca, a escola sempre adorou falar de Portugal – acredito que por influencia do seu presidente Fernando Horta, naquele ano ela cantou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, inaugurado no Brasil Império – por Dom João VI, ou seja, estava tudo em casa, portuguesa – com certeza. Outro lindo momento da história do carnaval daquele ano, foi ver a Grande Rio com um enredo autoral, histórico, estilo que a consagrou o início de sua trajetória, em 97 a escola de Caxias falou sobre a estrada de ferro construída no coração da floresta Amazônica, a Madeira Mamoré, um samba fortíssimo, resultando em um belo desfile. 97 foi um carnaval de belas e elegantes imagens, como a Vila Isabel - última escola a entrar na avenida, com o dia claro e sol forte, um samba maravilhoso, contando e cantando a história do carnaval, em um alerta para o samba não morrer. A Portela trouxe um samba meio marchinha – meio frevo falando sobre a cidade de Olinda, a Imperatriz mais luxuosa que nunca com um enredo sobre Chiquinha Gonzaga (o que era aquela comissão de frente com teclas de piano? Vale a pesquisa no youtube). Como disse anteriormente, tivemos o Salgueiro e a Porto da Pedra falando da loucura, a Beija Flor com um caldeirão de enredo que misturou (O Natal, São João, Hallowenn, dia de Oxumaré, dia das Mães, etc) uma festa, fruto da mente brilhante que atende por Milton Cunha - esse delírio resultou no quarto lugar para a escola, e a Mangueira, que ficou em terceiro lugar com uma campanha eleitoral em prol do Rio sediar os Jogos Olímpicos, não os de 2016 – em 1997 o sonho brasileiro eram os jogos de 2004. Mas nenhum enredo dentre essa diversidade de temas foi páreo para essas duas escolas, a Mocidade Independente de Padre Miguel foi buscar o Bicampeonato naquele ano, com um trabalho primoroso sobre o corpo humano “De corpo e alma na Avenida” (um dos melhores do Renato Lage), novamente apostando em um tema cientifico. Assim como o tema da Unidos do Viradouro, que vinha de uma penúltima posição no carnaval anterior, para um tudo ou nada, com o enredo também científico - “Trevas! Luz! A explosão do Universo”, o mestre João Trinta falou sobre a teoria do Big Bang, trazendo a abertura da escola toda em preto, absolutamente preto, tudo em preto, e só depois a escola explodiu num branco profundo e outras cores. Entretanto, a grande explosão da Viradouro, o grande Big Bang daquele desfile que deu o título inédito a escola, sem dúvida, foi a batida FUNK da bateria criada pelo mestre Jorjão, o povo ia ao delírio, aquela Sapucaí veio abaixo. Em casa pela transmissão da TV, a gente se assombrava ao ver aquilo, ouvindo no CD (sim naquele ano já havia cd, e sim, esse foi o meu primeiro CD) aquela batida toda swingada no Funk já arrepiava a todos. Imagine ali, ao vivo? Foi um Big Bang pra ninguém botar defeito. Por mais que a Mocidade Independente de Padre Miguel estivesse perfeita (ao meu ver até superior) com samba excelente, com um visual maravilhoso, mestre Coé e sua bateria afinadíssima, nada naquele ano superaria a paradinha FUNK da Viradouro, claro, eu não tiro os méritos do trabalho do Joãozinho Trinta como carnavalesco, não sou doido, mas o ápice daquele carnaval de 97, foi a tal paradinha. E assim, elegantemente, a Mocidade viu o caneco ir para Niterói, graças a uma paradinha no samba. Bem, cabe lembrar que foi o saudoso mestre André, aquele do famoso samba: “Mestre André sempre dizia, ninguém segura a nossa bateria”. Foi ele quem criou “as paradinhas”, também chamadas de bossa ou breque - nas baterias de escola de samba. Quer algo mais elegante que isso? Até mais, Danilo Jesus


 
 
 

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