1984 - O ANO QUE NÃO TERMINOU
- Danilo de Jesus
- 1 de mar. de 2015
- 4 min de leitura

Rio de Janeiro, Fevereiro, Março, 40 graus. A toque de caixa o então Prefeito Leonel Brizola, concluiu as obras do majestoso Sambódromo Carioca, pioneiro e que serviu de modelo aos outros tantos espalhados pelo Brasil.
As agremiações carnavalescas cansadas do amadorismo “mesmo que algumas ainda o exerça” clamavam por um palco descente, o carnaval carioca estava crescendo e junto com ele, o turismo da cidade. Além disso, o sobe arquibancada - desce arquibancada ano a ano no centro do Rio, era um ralo para os cofres públicos.
Idealizada por Darcy Ribeiro e sob o traço do Genial Oscar Niemeyer (homenageado da Viradouro em 2006), ergueu-se um marco da paixão brasileira, o altar do samba com seus 730 metros e seus arcos que emoldurando a praça da Apoteose, ali no centrão carioca - na Avenida Marques de Sapucaí, que hoje é conhecida mundialmente. Bem como a bendita Torre de transmissão, que desde de sua inauguração está lá, causando frisson e fazendo muita escola perde a cabeça – literalmente.
1984, duas noites de Desfiles, ou melhor, três noites de desfiles... 07 escolas no Sábado, 07 escolas no Domingo, o regulamento daquele ano previa que teríamos a campeã do Sábado e a campeã do Domingo, e que as 03 melhores escolas de cada noite voltariam a desfilar no que hoje conhecido como Sábado das Campeãs, para um tira teima, para a disputa do SUPERCAMPEONATO.
Coube a até então tradicional, mas ainda discreta Unidos da Tijuca começar os trabalhos daquele 1984 - com enredo Salamaleikum, seguida pela vizinha Império da Tijuca, Caprichosos de Pilares, o Salgueiro e o genial Arlindo Rodrigues com o enredo Skindô-Skindô, e fechando a primeira noite ainda tivemos a Portela e antológico enredo e samba Contos de Areia (Homenagem a 3 figuras lendárias da Escola – o Sêo Natal, Paulo da Portela e Clara Nunes, recém falecida) e a Império Serrano que tinha como carnavalesco um moço chamado Renato Lage.
A segunda noite começou com a Estácio de Sá, depois veio a Unidos da Ponte e um dos meus sambas e enredo preferido “Oferendas”, seguido pela Mocidade Independente, a Vila Isabel e o samba que merece um texto só pra si “Pra tudo se acabar na quarta feira”, a Imperatriz Leopoldinense, Beija Flor e fechando a segunda noite de desfiles ainda tinha o Verde e Rosa da Mangueira homenageado Braguinha!
A Portela sagrou-se campeã do primeiro dia seguidas por Império, Caprichosos. Já na segunda noite a campeã foi a Mangueira, depois Mocidade Independente, Beija Flor, juntando-se as elas a Santa Cruz e Cabuçu – campeã e vice do grupo de acesso daquele ano. Pronto, teríamos as 8 melhores de 1984, credenciadas a disputar o Supercampeonato. Mas antes dessa disso, a verde e rosa já havia sido agraciada pela consagração maior que uma escola de samba pode ter... Os braços do Povo.
Esse 1984 é sortudo, antes mesmo do Supercampeonato, a Praça da Apoteose vivenciou uma experiência única. Em seu projeto, a ideia da Apoteose era o momento do encontro da escola de samba e do povo! De fato isso confirmou com os desfiles daquele ano. Mas foi superado quando o público presente e a Mangueira se uniram num bloco único, com o sol a pino e a bateria “Tem que Respeitar Meu Tamborim” a frente, a Mangueira após finalizar seu desfile, retornou à Marques de Sapucaí, arrastando tudo o que vinha pela frente.
A escola foi e voltou, nos braços da galera. Se podia?
Naquele 1984 tudo podia! Afinal, o país estava se libertando do regime ditatorial, as Diretas Já e o povo na rua... Tudo era permitido, ou quase tudo!
A realidade é que a Mangueira precisava guardar suas coisas na Praça 11, onde era seu barracão, e porque não voltar pela própria passarela, já que seria o caminho mais curto?
O que a direção Mangueirense não esperava é que o povo viria junto, cantando e sambando com a bateria, antecipando assim o famoso o verso que diz “Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu”!
No tira teima do sábado seguinte, mesmo a Portela com alegorias e fantasias superiores, o chão Mangueirense fez diferença e com 2 pontos a frente, o povo da verde e rosa pôde bater no peito com orgulho, pois é até hoje a única escola de samba aclamada como SUPERCAMPEÃ!
Em tempo, 1984 sagrou em São Paulo a Rosas De Ouro como campeã, com o enredo sobre a faculdade de Direito do Largo São Francisco “Academia Berço de Heróis”, 01 ponto a frente do Camisa Verde que tinha o maravilhoso Samba “Os três encantos do Rei”, que contava os amores e paixões do orixá da Justiça, Xangô.
1984, para o sambista um ano que não terminou, pelo contrário, esse ano é um marco um ponto de partida para o profissionalismo das escolas de samba e a organização do concurso de carnaval que conhecemos nos dias de hoje, dando ao povo seu palco definitivo.
Até a próxima, Danilo Jesus
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